quarta-feira, 24 de julho de 2013

21% dos alunos dizem agredir colegas


     O bullying é uma realidade nas escolas brasileiras. Especialistas dizem que prática não é combatida adequadamente

Adriana Czelusniak
Guilherme Dobrezanski Marques, ex-vítima do bullying e ativista contra a prática

     Esculachar, zoar, intimidar e caçoar são verbos conjugados na prática por alunos das escolas brasileiras. Agressões contra os colegas são admitidas por 20,8% dos estudantes. O resultado faz parte da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), que ouviu cerca de 100 mil jovens de 13 a 15 anos matriculados no 9.º ano do ensino fundamental em escolas de todo o país.
O estudo também revela que 35,4% dos alunos confirmam ter sido agredidos, humilhados ou hostilizados pelos colegas nos 30 dias que antecederam a pesquisa, feita entre abril e setembro de 2012. Nesse cenário, 7,2% disseram que a prática é frequente e 28,2% afirmaram que ocorre raramente ou às vezes.
     Ainda segundo a pesquisa, o bullying atinge mais os meninos e mostra-se mais recorrente nas escolas privadas do que nas públicas. A Pense foi feita a partir de uma parceria entre os Ministérios da Saúde e da Educação com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Enquanto o governo avança, buscando conhecer a dimensão do problema entre alunos das diferentes regiões do país, as políticas públicas não acompanham. Para o psicólogo Cloves Amorim, professor de Psicologia na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), todos os projetos de lei que tratam do tema são “péssimos e equivocados”, pois têm o princípio do diagnóstico e da punição, quando deveriam promover a prevenção, propondo uma cultura de paz nas escolas.
    “São matérias originadas no calor de eventos, quando políticos oportunistas correram para elaborar leis que são frágeis conceitualmente e que não têm clareza do fenômeno”, avalia Amorim.

Vítima

 

     A forma como o governo atua contra o bullying também precisa melhorar na opinião de Guilherme Dobrezanski Marques, que conviveu com o bullying nos anos escolares principalmente por ser “tímido e franzino”. Hoje, Marques tem 25 anos e, formado em Direito, estuda o tema em sua dissertação de mestrado. “Os projetos de lei criminalizam o bullying, o que é errado. O bullying se combate com educação e com a qualificação das instituições de ensino para lidarem com ele. Não com punições”, diz.
     De forma geral, as escolas não se mostram preparadas para lidar com a questão. Marques diz que, nos tempos de agressões, nunca pediu socorro, pois tudo ocorria na frente dos professores, que nunca interviram. “Fora do colégio, eu também não procurava ajuda, até porque é uma situação humilhante que você vai ter que se expor e, por vergonha, acaba não contando para alguém”, diz.

Bullying não é brincadeira

 

     O que diferencia o bullying de uma brincadeira é a intenção do agressor de causar sofrimento, a frequência das ofensas e o desequilíbrio de poder que leva à intimidação da vítima. O fato de ainda haver muita gente que encara o bullying com desdém atrapalha o enfrentamento ao problema. Achar que o bullying é frescura ou que se trata de uma dificuldade que torna a vítima mais forte é um erro comum, segundo o psicólogo Cloves Amorim. “O que mais se quer na vida é se sentir pertencente a um grupo, é conquistar a confiança de um igual e, por isso, é tão terrível quando os pares menosprezam”, diz a pedagoga Luciene Tognetta.

Relato

 

As punições não adiantaram e a violência continuou
Alexandre Saldanha, ex-vítima de bullying, autor do blog Bullying e Direito.

     “Fui vítima do bullying por quase toda a minha vida escolar. Dez anos de perseguições. Fui uma criança gordinha e com problemas motores que não conseguia jogar bola e nem era tão ágil para brincadeiras em grupo. No início, tudo acontecia dentro da sala de aula, durante o recreio e nas aulas de Educação Física. O problema foi levado para a coordenação pedagógica que sugeriu uma mudança de turma.
     Como os alunos interagiam, logo todos souberam dos apelidos e também começaram a ofender. Novamente o problema foi levado à orientação, que tomou duas mediadas errôneas. A primeira foi chamar alguns dos meus agressores para tomarem broncas e me pedirem desculpas. A segunda foi entrar em sala de aula e fazer os demais agressores pedirem desculpas a mim.
     Essas “medidas pedagógicas” pioraram a situação. Além de fomentar o ódio dos demais alunos, meus apelidos se espalharam pelo bloco inteiro e eu me isolei dos alunos na hora do recreio para não ser ridicularizado.
     Fui transferido de instituição porque se tornou insuportável a permanência lá. Desde então, decidi que estudaria a fundo uma forma de proteger quem sofre este tipo de agressão. Há sete anos me dedico a pesquisas científicas sobre o bullying sob a ótica do Direito e, em 2011, fundei a Liga Antibullying, hoje com mais de 300 membros.”

Como lidar

 

Confira as principais orientações para combater o bullying:

• Leia sobre o assunto e insira o tema em conversas com os filhos. Usar exemplos noticiados pelos jornais pode ser uma boa maneira de começar um diálogo.
• Manifeste apoio e atenção ao tomar conhecimento de algum caso. Mostre que seu filho pode se sentir seguro e que vai protegê-lo.
• Procure a coordenação ou direção da escola, mas tenha calma para tentar encontrar uma solução em conjunto. Não procure os pais do possível agressor para tirar satisfação, eles podem agir de forma negativa e a situação ficar mais difícil.

Fonte: especialistas entrevistados.

Definição

 

     A definição usada na pesquisa Pense considera o bullying (do inglês, bully = valentão, brigão) como comportamentos com diversos níveis de violência, que vão desde chateações inoportunas ou hostis até fatos francamente agressivos, sob forma verbal ou não, intencionais e repetidas, sem motivação aparente, provocados por um ou mais alunos em relação a outros, causando dor, angústia, exclusão, humilhação, discriminação, entre outras sensações.
“O bullying está atrelado ao dano e não à prática. Não basta haver um ato ofensivo se a vítima não se abalou o suficiente ao ponto de se sentir inferiorizada ou deprimida. Apelidos e xingamentos são comuns no ambiente escolar, se a vítima sabe lidar com isso, não se abala e revida, não é bullying.”

Guilherme Dobrezanski Marques, ex-vítima do bullying e ativista contra a prática.

Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/m/conteudo.phtml?tl=1&id=1393102&tit=21-dos-alunos-dizem-agredir-colegas

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Dicas para melhorar a vida de uma criança com TDAH:


POR: LETÍCIA GONÇALVES - PUBLICADO EM 25/02/2013
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é o transtorno psiquiátrico mais comum não-diagnosticado entre os adultos e um dos mais prevalentes na população mundial: 3 a 5% de adultos e crianças apresentam o problema, segundo o psicólogo clínico Ronaldo Ramos, diretor executivo da Associação Brasileira de TDAH. Um novo levantamento feito pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também mostra que o consumo do medicamento metilfenidato, usado para o tratamento de hiperatividade, cresceu 75% de 2009 a 2011 por crianças com idades entre seis a 16 anos.
"O uso de medicação contra TDAH pode ser iniciado por volta dos oito anos de idade, de forma a estimular uma maior produção de neurotransmissores no cérebro da criança e melhorar a atenção", explica o psicólogo Ronaldo. Mas é preciso fazer um diagnóstico preciso da doença antes e - se realmente for detectado o problema - aliar ao tratamento medicamentoso terapias e alguns hábitos diários. Confira o que especialistas recomendam aos pais e responsáveis para melhorar o convívio, o bem-estar e o desenvolvimento da criança.


Regras são necessárias:

A neuropsiquiatra Evelyn Vinocur, especialista em TDAH, dá a seguinte recomendação: "Estabeleça regras de modo simples e específico e escreva-as em post-its que fiquem em locais de fácil visão para o seu filho". Você também pode pedir para que ele repita as instruções, de forma a fixá-las, mas sem esbravejar - sempre com paciência.
Segundo o psiquiatra infantil Gustavo Teixeira, professor visitante do Departament of Special Education da Bridgewater State University, nos Estados Unidos, crianças com TDAH apresentam dificuldade em se organizar, são "esquecidas". "Devemos auxiliar com estratégias que prendam a atenção e as façam se lembrar de compromissos e regras", explica o médico.

Reforço positivo:


          Gustavo Teixeira conta que elogios são bons exemplos de reforço positivo em casos de bons comportamentos: "Vamos lá", "você consegue", "parabéns", "bom trabalho". Fique atento a todas as oportunidades para elogiar sempre que ele fizer algo corretamente. "Mas tenha cuidado para não exagerar demais quando há pequenos acertos, pois ele vai perceber", comenta Evelyn Vinocur. Procure elogiar o que há de melhor na criança.

Limite de críticas:

      Se não for possível elogiar o comportamento, dê um retorno mesmo assim - sempre por meio de um diálogo. Lembre-se de que isso não é um passe livre para criticar demais a criança, mas sim esclarecer o que seria mais apropriado e esperado dela naquele momento. "Criticar demais prejudica a autoestima da criança, que é ainda mais vulnerável por causa do TDAH", explica o psiquiatra infantil Gustavo. Cobre empenho e não resultados.

Planeje as atividades:

"Crianças com TDAH apresentam dificuldade em gerenciar o tempo e se organizar em qualquer atividade", explica Gustavo Teixeira. Por isso, ajude o seu filho a mudar de forma suave e gradativa, planejando com antecedência as atividades. Procure também preparar a criança para qualquer mudança que altere a sua rotina, como festas, mudanças de escola ou de residência.

Paciência e humor:

É verdade que todos os pais precisam ter muita paciência e bom humor para educar os seus filhos, mas pais de crianças com TDAH precisam reforçar um pouco mais esse cuidado. Pode ser difícil entender algumas atitudes impulsivas da criança, que tende a agir e falar em alguns momentos sem pensar ou a não prestar atenção em assuntos importantes. "Com senso de humor e calma, você terá condições de evitar conflitos", sugere Evelyn Vinocur.

Respeito e compreensão:

"Tenha sempre em mente que você está lidando com uma condição médica que seu filho tem e não com uma falha de caráter", afirma Evelyn Vinocur. Espere que seu filho tenha dias bons e ruins, mas lembre-se de que culpar o seu filho, você ou seu companheiro não vai ajudar em nada. "Todos vocês estão juntos no mesmo barco e fazendo o melhor que podem", diz a neuropsiquiatra.
Não se esqueça de que seu filho está tentando corresponder às expectativas, mas às vezes não consegue por conta das características do TDAH. Procure não desanimar diante dos obstáculos. Converse bastante com especialistas para se sentir melhor e mais seguro diante de suas atitudes com a criança.
 

Seja objetivo:

Mantenha limites claros e consistentes, olhando nos olhos da criança sempre que for falar e relembrando-os com frequência. "Não fale muito nem seja mole demais - responda com clareza a ação apropriada", sugere Evelyn Vinocur. Dessa forma, você facilita o entendimento e a compreensão das regras.

Evite comparações:

Se você tem mais de um filho, não faça comparações entre eles. "Cada criança tem suas facilidades ou dificuldades específicas e fazer comparações pode estimular a competição entre elas e prejudicar a autoestima", esclarece o psiquiatra infantil Gustavo.

Saiba o que a criança está sentindo:

Não sabe como? O diálogo é sempre o melhor caminho. "Conversar, explicar, orientar, apoiar e procurar entender as dificuldades da criança é fundamental para ajudar no desenvolvimento acadêmico e social", afirma Gustavo Teixeira. Nessas conversas, procure sempre perguntar do que a criança precisa e o que está achando das coisas. É claro que não vai dar para atender a todos os pedidos dela, mas é possível estabelecer acordos.

Atividades sempre finalizadas:

Ensine a criança a não interromper as atividades. O psicólogo clínico Ronaldo Ramos, diretor executivo da Associação Brasileira de TDAH, conta que a criança com a doença tem dificuldade de completar tarefas porque há outros estímulos dentro do ambiente que ela está que chamam a sua atenção, dificultando o foco. "Procure estabelecer um período certo para a tarefa que não seja muito prolongado, incluindo também alguns momentos de descanso entre uma atividade e outra", sugere o especialista.

Quarto sem estímulos exagerados:

O quarto não pode ser um lugar repleto de elementos que vão desviar o foco da criança, como brinquedos, pôsteres, etc. "Isso não quer dizer que não é possível decorar o ambiente do seu filho, mas sim que é preciso isolar alguns locais específicos", explica o psicólogo Ronaldo, que dá um exemplo: o canto onde a criança vai estudar precisa ser uma escrivaninha com poucos objetos em cima e sem muitos pôsteres na parede. "Esse cuidado é uma forma de melhorar o rendimento da atenção."

Estimule a pratica de atividades físicas:

A criança com TDAH que tem agitação psicomotora pode se beneficiar dos exercícios físicos. "É bom intercalar atividades mais calmas com atividade física, como forma de lazer e para gastar um pouco da energia e diminuir a agitação", explica Ronaldo Ramos. Mas é importante estabelecer regras: pode jogar futebol por uma hora, por exemplo, e não durante mais de quatro horas seguidas. "A criança pode não ter limites se gostar muito da atividade, a ponto de não se dedicar a outras atividades e ficar exausta", conta o psicólogo.

Estimule amizades:

É por meio do contato com outras crianças que o seu filho também irá aprender algumas regras de sociabilidade e estabelecer limites para suas atitudes. "As crianças hiperativas falam tudo o que vem à cabeça, sem filtrar, e podem se tornar desagradáveis nos relacionamentos", diz o psicólogo Ronaldo. "Já as crianças que são mais desatentas tendem a ser mais introspectivas, precisando de um estímulo para se relacionar." Procure sempre conversar com os professores da escola para saber como anda o convívio do seu filho com os colegas e o comportamento de todos.

Estimule a independência:

É nos pais que a criança com TDAH encontra um porto seguro que está sempre à disposição para ajudá-la a se organizar, a agir e a não perder o foco. "Não é errado, mas é preciso fazer com que ela aos poucos se lembre das regras e se organize sozinha", recomenda Ronaldo Ramos.

Brincadeiras com jogos e regras:

Além de serem divertidas, essas brincadeiras desenvolvem a atenção da criança e permitem que ela se organize por meio de regras e limites. Desse modo, o filho aprende a participar e a compreender momentos de vitória, empate e de derrota.

Recarregue a "bateria":

Algumas crianças com TDAH podem descarregar a energia rapidamente. Se for o caso do seu filho, procure sempre incluir momentos na rotina para recarregar a disposição: um simples cochilo durante o dia, o hábito de passear com o cachorro, um fim de semana diferente longe de casa, entre outras atividades. Descubra como a sua criança pode se sentir melhor.

Para melhor saber sobre crianças com TDAH acesse:
http://www.universotdah.com.br/