segunda-feira, 19 de março de 2012

Considerações gerais sobre o aprendizado da criança com Síndrome de Down

Pessoas com Síndrome de Down (SD) têm em comum o cromossomo 21 extra, que é responsável pela hipotonia muscular, pelo eventual déficit cognitivo e pelos sinais físicos que as tornam muitas vezes facilmente reconhecíveis e parecidas entre si.

Por causa destas semelhanças, muitas vezes os educadores correm o risco de generalizar o funcionamento global das crianças com SD, induzindo a uma padronização improvável de competências e modos de aprendizagem.

Devemos ter em mente que crianças com Síndrome de Down são, antes de tudo, crianças. Mesmo tendo, como já foi citado anteriormente, muitas semelhanças entre si, elas nos mostram ansiedades, fases diversas de desenvolvimento, angústias, alegrias, tristezas, potencial de aprendizagem, capacidades cognitivas, habilidades, dificuldades pessoais, como qualquer outra criança. Algumas se desenvolvem com facilidade, outras demoram mais, algumas recebem grandes doses de estimulação e apresentam um progresso mínimo, outras são pouco estimuladas e se desenvolvem melhor. Não há uma fórmula que funcione da mesma maneira com todas as crianças.

As crianças vão reagir de maneiras diferentes aos estímulos, porque cada um é cada um, com suas capacidades e particularidades, é assim o processo evolutivo humano.

É evidente que o material genético na SD acarreta algumas particularidades que interferem neste aprendizado, e que merecem atenção:

* Sua personalidade

* Seu interesse e motivação

* Sua capacidade intelectual

* Seu ritmo pessoal de trabalho e de progresso.

* Sua atenção, memória, concentração e percepção visual


Cada criança terá o seu tempo de aprendizagem, o que exigirá respeito e uma adaptação adequada para que evolua e efetive com sucesso no processo de aprendizagem.

Em relação à sua personalidade, se demonstrar ser tímido e retraído, se faz necessário que o professor adote uma estratégia que o auxilie a criança a expor suas idéias, e reflita sobre os possíveis resultados. É muito comuns as crianças com SD mostrarem um comportamento impulsivo, neste caso é necessário intervir de forma que o ajude a refletir sobre seus atos para que possa chegar às soluções.

Outro comportamento possível é o inseguro; a criança está sempre esperando a aprovação de suas respostas, e neste caso será preciso que a intervenção seja direcionada para ajudá-lo o superar as frustrações de seus enganos.

A motivação e o interesse são fatores importantes e decisivos para uma aprendizagem efetiva. É necessário que esta motivação se mantenha alta, despertando assim o interesse pela atividade. Freqüentemente as crianças com SD demonstram muito entusiasmo por atividades que estão relacionadas com sua vida diária, com pessoas de seu relacionamento, enfim, assuntos que estejam envolvidos com seu cotidiano e que sejam desafiadores. O interesse pelas atividades muitas vezes depende do nível de complexidade que estas possuem. Atividades muito complexas, ou fáceis demais podem causar um desinteresse por parte da criança. Esse nível de complexidade foi explicado por Vygotsky, quando desenvolveu sua teoria de Zona de Desenvolvimento Proximal.

Quanto à capacidade intelectual, esta varia muito nas crianças com SD. Depende de alguns fatores anteriores, tais como: as condições de gestação da mãe, se tomou vitaminas ou não, a maneira como a família recebeu a notícia do nascimento desta criança, sua maior ou menor aceitação.

O momento da notícia, a maneira como a família recebeu e aceitou a condição da criança, sem dúvida poderá definir o rendimento futuro desta criança. Um programa de intervenção precoce ajudará muito nas suas futuras aquisições.

Outro fator importante que influencia muito é a condição de saúde desta criança. Longas hospitalizações, infecções constantes de ouvido, dificuldades visuais, não só podem comprometer seu desenvolvimento intelectual como também afetar o desenvolvimento motor, lingüístico, emocional e social, e às vezes acarreta dos pais ou responsáveis um comportamento de super-proteção. Quando isto acontece, ficam reduzidas as oportunidades de descobertas que a criança precisa para desenvolver as habilidades necessárias para o seu desenvolvimento motor, cognitivo e social.

Muitas vezes este ritmo de aprendizagem é frustrante para o professor, que espera avanços rápidos e resultados concretos. Mas quando apressamos demasiadamente este ritmo corremos o risco de gerar um sentimento de frustração na criança, que por sua vez ocasiona uma desmotivação, e assim o processo de aprendizagem ficará comprometido, pois teremos que resgatar esta motivação, numa tarefa que será muito estressante.

O ritmo de aprendizagem também se torna perigoso quando o professor escolhe ir muito devagar com o processo de aprendizagem, subestimando muitas vezes a capacidade intelectual desta criança, provocando muitas vezes falta de interesse e pouco esforço mental.

É fato que as crianças com SD aprendem por repetições, mas aqui devemos ter o cuidado de observar que as repetições não podem ser de maneira mecânica e enfadonha, pois nenhuma criança agüenta este processo. Portanto, para que se consolide a aprendizagem, é necessário que tenha significado para o aprendiz, e que ocorram variações nas atividades e principalmente, sejam atraentes e estejam entrelaçadas com sua vida diária.

A repetição é importante, mas deve ser efetivada de maneiras diferentes para que efetivamente ocorra o aprendizado.

As crianças com SD podem apresentar problemas de audição, que infelizmente em alguns casos são freqüentes, então é necessário que as informações sejam apresentadas pela também pela via visual, fornecendo estímulos breves, claros e definidos. Solicitando da criança respostas gestuais ou motoras, as possibilidades de êxito serão bem maiores.

As informações visuais são mais eficientes porque se mantém por mais tempo no cérebro, auxiliando a recordar quando necessário. Portanto, deve-se apresentar informações através de desenhos, figuras e imagens, para que a criança possa associá-las e recordá-las com mais facilidade quando necessário.

A atenção, a memória e a percepção visual são pontos importantes para este aprendizado, e que melhoram muito se forem trabalhadas de maneira sistemática e bem estruturadas.

É importante saber dessas características cognitivas que permeiam as crianças com SD, para que o professor possa elaborar estratégias eficientes para ajudar esta criança a conquistar sua superação.

A criança com SD, como todas as outras crianças, tem necessidade e merece ter o seu modo “personalizado” de aprender, evidenciada através de uma avaliação inicial direcionada para as suas potencialidades, mostrando o que ela já sabe e o que necessita e precisa saber. Assim poderá ser determinado seu estilo e seu ritmo de aprendizagem, junto com as suas necessidades individuais, que auxiliam o professor a planejar atividades significativas que ajudem a realizar o potencial de aprendizagem desta criança.

Cristiane Dluhosch

Terapeuta Educacional

Mãe de aluna da E.A.B

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