terça-feira, 10 de novembro de 2009

Quinta série: o início da autonomia


Começar a ir sozinho para a escola é o primeiro passo para consolidar a individualidade e a independência da criança. O momento deve ser valorizado pelos pais, mas sem superproteção

O fim do leva-e-traz para a escola é, para os pais, o primeiro sinal de que as crianças estão crescendo. Em geral, segundo especialistas, a etapa acontece na pré-adolescência, por volta dos 10 anos. Os pedidos de mais liberdade vêm acompanhados de uma enxurrada de dúvidas. Será que é a hora de eles começarem a andar sozinhos? Como eu posso saber se meu filho está seguro?

Esta é a idade em que as crianças começam a ter mais compromissos do que apenas ir à escola, segundo Vânia da Fonseca Turra, assessora pedagógica do Colégio Bagozzi. São cursos de línguas, esportes e outras atividades. “Ou os pais liberam ou acabam prendendo os filhos em casa, porque não vão dar conta de levá-los em todos os lugares”, afirma Vânia.

Aos poucos
A independência e a segurança necessárias para andar sozinho são adquiridas com o tempo. Veja como os pais podem estimular:

  • Desde cedo
Pequenas tarefas domésticas, como guardar a roupa e os brinquedos ajudam a criança a perceber que ela pode cuidar dela e de suas coisas.
  • Administrar
Dar mesada é uma forma de estimular e incentivar atitudes autônomas. A prática pode começar com 9 ou 10 anos.
  • Pequenas saídas
Ir até a padaria mais próxima ou entregar recados a familiares são formas de fazer a criança perceber que a família confia nela. Assim, os pais também vão se sentindo mais seguros pouco a pouco.
  • Diálogo
Alertar sobre os perigos de andar sozinho nunca é demais. É importante conhecer o caminho e redobrar os conselhos se a criança for pegar ônibus ou se houver trechos mais perigosos.
  • Longe e perto
Nos primeiros dias os pais podem acompanhar. Depois o celular é o mais indicado. O monitoramento não pode ser exagerado. Avisar o horário de saída e chegada é o suficiente.
Fontes: Vânia da Fonseca Turra, assessora pedagógica do Colégio Bagozzi; Sonia Maria Küster, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia Seção Paraná Sul.

De acordo com Gilberto Gnoato, psicólogo e coordenador do curso de Psicologia da Faculdade Dom Bosco, biologicamente, as crianças que estão na fase de 10, 11 anos já estão prontas para andarem sozinhas.O que faz algumas mais independentes do que as outras é a forma como elas cresceram. “Depende da cultura, do ambiente familiar e das condições sociais. Os pais devem conhecer os filhos. Uma criança que foi bem estimulada a tomar decisões desde pequena reage melhor a esse momento. No Brasil, quanto mais alta a classe econômica, mais os pais têm a tendência de prolongar a infância dos filhos. Isso é um problema”, diz Gnoato.

A violência é o principal motivo que faz com que os pais tenham medo de soltar as crianças e acabem superprotegendo. Para a psicopedagoga Sonia Maria Küster, presidente da Associação Brasi leira de Psicopedagogia Seção Pa ra ná Sul, o medo deve ser superado para não deixar que, nesta fase de crescimento, a autonomia não seja desenvolvida. “É um passo muito importante. O cuidado em excesso faz surgirem dificuldades para tomar iniciativa. Isso repercute na independência desse futuro adolescente. Existem formas de controlar sem proibir. A criança pode manter os pais informados, avisando ao chegar e ao sair do local de destino.”

A estudante da quarta-série, Amanda, 10 anos, ganhou um celular dos pais quando sua família decidiu que estava na hora de ela começar ir para a escola e para o treino de vôlei sozinha. “Eu não dava mais conta de acompanhá-la”, conta Leoni, mãe de Amanda. Nas primeiras vezes, foi com a filha e conversou bastante sobre os perigos. “Expliquei sobre o trajeto e as pessoas. É claro que fiquei com medo, mas não podemos colocar nossos filhos em uma redoma de vidro. Eu deixo, mas isso não quer dizer também que não estou sempre atenta”, diz ela. Amanda tem o compromisso de ligar para a mãe assim que chega à escola e quando está saindo. “Ela avisa até se o ônibus atrasou.”

O monitoramento deve acontecer até os pais se sentirem seguros. Foi assim com a filha mais velha de Leoni, Aline, hoje com 19 anos. “Ela andava sozinha desde os 10 anos e nós paramos de ligar três anos depois. Isso foi muito importante para a formação dela. A Aline sabe mais de Curitiba do que nós e ela até já foi morar em outra cidade para jogar vôlei.”

Gazeta do Povo - Publicado em 21/10/2009 | JULIANA VINES

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