Por Giovanna Tavares - iG São Paulo | 10/07/2014 15:09
Mesmo dolorosos,
esses momentos são propícios para a reflexão. Especialistas ensinam como
conversar com os fãs mirins sobre decepções e perdas
Crianças
protagonizaram cenas de tristeza durante o jogo que eliminou o Brasil da Copa.
A
sensação de que tudo não passava de um sonho – ou pesadelo – foi comum à
maioria dos brasileiros na última terça-feira (08), durante a disputa entre
Brasil e Alemanha pela Copa do Mundo. O jogo
terminou com um placar avassalador de 7 a 1 para os alemães. Algumas imagens
dos torcedores ficarão na memória e, entre elas, muitas foram protagonizadas
por quem não acreditava que aquela seleção de heróis pudesse ser derrotada: as
crianças.
Se para
os adultos foi difícil lidar com uma frustração tão grande, para os pequenos
não foi diferente. Como eles ainda têm uma interpretação da realidade muito
diferente da dos pais, o sentimento de perda tende a ser
maior.
“Embora nós já soubéssemos que o Brasil não vinha jogando muito
bem, a tristeza é totalmente adequada nesse momento. Existia uma expectativa
muito grande. Mesmo assim, o importante é que os pais façam uma reflexão
crítica com as crianças depois da derrota”, explica a psicóloga infantil Ana
Cássia Maturano.
Segundo a especialista, situações frustrantes como essa são o
momento perfeito para trabalhar a maturidade dos filhos. Não há problema nenhum
em ficar triste ou desapontado com o resultado ruim, muito pelo contrário. O
espaço para a tristeza, bem como sua duração, devem ser respeitados. É aí que o
aprendizado pode acontecer.
O choro deve ser livre
Depois
da lamentação, naturalmente, vem a reflexão. Em relação ao último jogo da
seleção brasileira, por exemplo, os pais podem explicar por que a vitória alemã
foi merecida. Outro ponto é discutir quais foram os erros do Brasil e o que
pode ser feito nos próximos anos para garantir o tão almejado título. Essa
postura é válida para outros momentos,
como quando a criança tira uma nota ruim na escola ou perde alguma competição
com os amiguinhos.
Agir com agressividade ou proibir que ela se sinta triste é um
erro que pode trazer consequências graves no futuro. “Quando você reprime o
choro ou a angústia, está dizendo que seu filho é fraco. Como se ele não
tivesse direito de se sentir assim. Essa criança pode virar um adulto deprimido
e inseguro”, alerta Ana Cássia.
“Toda decepção é uma
oportunidade de aprendizado e tem um lado positivo, que os pais devem
ressaltar. Só assim a criança consegue superar a tristeza”, reforça a psicóloga
Maria Eduarda Vasselai.
Amor por futebol
Para Enzo, de sete anos, não foi tão fácil assim aceitar que o
Brasil tinha sido eliminado. O amor pelo futebol começou com a Copa, bem como a
vontade de aprender a jogar futebol, com chuteira e tudo. “Em todos os jogos,
nós reunimos a família para torcer e vibrar. Nesse dia, enquanto estávamos
perplexos com o placar, Enzo nos surpreendeu tirando a camisa do Brasil. Disse
que não torceria mais para um time de perdedores”, lembra a mãe Camilla Guimarães
Alves.
A saída foi acalmá-lo e explicar que não era certo fazer aquilo
com a camisa do time, mesmo que todos estivessem bravos com o resultado. “Eu
disse a ele que, apesar de tudo, somos brasileiros e temos que amar nosso país
e nossa seleção. No futebol e na vida é assim mesmo, um dia a gente ganha e em
outro a gente perde”, conta Camilla. Enzo compreendeu, mas não deixou de
comemorar os gols da Alemanha.
Desapego
Respeitar o “período de
luto” das crianças, depois de alguma decepção, é fundamental. Mesmo assim, vale
colocar na balança quais as situações que merecem ser verdadeiramente
lamentadas, para que o sofrimento não seja reforçado pelos pais.
Enzo
teve dificuldade para aceitar que o Brasil tinha sido eliminado na Copa do
Mundo
Com o futebol, por exemplo, a angústia pode ser mais breve e não
precisa ser remediada a todo custo. Nesse caso, as crianças precisam
compreender que algumas coisas estão fora de seu controle, como a vitória ou a
derrota de um time. Sendo assim, não há por que se lamentar tanto, apenas
aceitar o ocorrido e seguir em frente.
Esse desapego, que ás vezes é mais comum para crianças do que
para adultos, pode pegar alguns pais de surpresa. Com Loraine Collino, mãe da
Anna Clara, de seis anos, o inesperado se deu com a superação rápida diante da
derrota do Brasil.
“Eu fiquei nervosa e parei de ver o jogo assim que acabou o
primeiro tempo, enquanto ela continuou brincando com as primas. Quando acabou,
perguntei como ela estava. Ela me disse: ‘normal, mamãe, mas triste porque
perdemos. Acabou a Copa para o Brasil, mas não faz mal porque tem outros jogos
ainda’”, repete Loraine.
Segundo a mãe, Anna
sempre foi muito competitiva e não lidava bem com frustrações e perdas. A calma
da criança até espantou os pais. “Ela aprendeu uma lição, em toda sua
inocência. De alguma maneira, entendeu que nem sempre as coisas acontecem
exatamente do jeito que queremos”, acredita.
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