Texto por
Daniela Dias
Disponível
em: www.alobebe.com.br
Manter-se ocupado é
realmente importante, inclusive para as crianças. Ter obrigações resulta em
disciplina, em capacidade de administrar tempo, em flexibilidade e em
socialização. Mas excesso de atividades não combina com o universo infantil. A
prática pode resultar na perda de concentração e comprometer o aprendizado.
A presidente da Associação Nacional de Psicopedagogia, Maria Irene Maluf,
defende um limite de atividades para crianças. "O mais importante para a
criança é brincar, em segundo lugar vem a educação formal", afirma. A
quantidade de compromissos diários de Heitor, 9 anos, preocupa sua mãe, a
economista Jandira de Sousa Agrello. O menino estuda em período integral desde
os 4 meses de vida e, atualmente, pratica futebol, xadrez, judô, inglês e
espanhol. Há cerca de dois anos, ela percebeu alguns sinais de cansaço.
"Meu filho já não suporta mais essa carga horária. Ele deseja diminuir os
compromissos para ficar em casa", conta. Quando Jandira percebeu que o
único filho tornou-se mais irritado e desatento buscou auxílio de
profissionais. Ela também combinou com a escola uma nova rotina para ele, que
não leva mais deveres para fazer em casa.
Já a pedagoga constata que ultimamente tem mais atividades para crianças e a garotada está assumindo mais
compromissos do que pode suportar. A carga horária dos pais e o desejo de
formar bem os filhos contribuem para o aumento das atividades das crianças.
Como passam a maior parte do dia fora, os adultos preferem preencher o tempo
dos pequenos a deixá-los na companhia de outras pessoas. "Não podemos
esquecer de que a infância é um período de aprendizado. Quem estiver desatento
a isso corre o risco de formar adultos tiranos", alerta Maria Irene.
Sombra e água fresca
Até os 2 anos de idade o compromisso da criança é brincar. Depois dessa fase,
os pais vão ensinando a meninada a ter rotina, a vislumbrar coisas novas e a se
relacionar com pessoas diferentes. Mesmo assim, o período dedicado às
brincadeiras deve ser maior que a quantidade de "estudo".
A partir dos 6 anos, a criança passa a desempenhar mais tarefas escolares e a
responsabilidade aumenta com o passar das séries. Por isso, a lição de casa
precisa ter hora para terminar. Também é importante reservar um período para
praticar uma atividade extra. Tudo isso sem comprometer a hora de
brincar.
Apenas na pré adolescência é possível reduzir o tempo dedicado às atividades
lúdicas para cerca de 2 a
3 horas por dia. Se não configurar um compromisso, não há restrições para tocar
um instrumento, pintar, desenhar, praticar esportes e brincar ao ar livre. As
crianças precisam experimentar várias atividades e, a partir daí, manifestar
interesse por alguma delas.
Os pais podem e devem incentivar as atividades para crianças, mas nunca forçar
a prática de algo que ela não gosta ou com a qual não se adapta. Somente
experimentando, ela poderá desenvolver interesse por áreas distintas. Embora a
maioria da garotada seja praticamente incansável, o momento de ócio é
fundamental. Elas não precisam necessariamente de um longo período de férias,
mas o horário de brincar é sagrado.
Também é importante que os pais reservem períodos para participar de atividades
com as crianças. Acompanhá-los em uma viagem e mostrar a eles coisas novas é muito
enriquecedor. Apresentar atividades para crianças diferentes das que eles fazem
comumente ou inusitadas pode ser estimulante e muito divertidos.
Tire sua dúvida
Alô Bebê: O que são atividades extracurriculares?
Maria Irene Maluf - Extracurricular é toda atividade para a criança
complementar à formação praticada frequentemente e além da grade escolar. Pode
ser um esporte, um curso de idioma ou de música.
Alô Bebê: Quais atividades extracurriculares são mais
comuns?
Maria Irene Maluf - Apesar da variedade de hoje, as atividades para crianças
mais comuns são inglês e espanhol, as artes marciais e o futebol. A computação,
as aulas de reforço escolar e as de arte (pintura, teatro, música) vêm na
sequência e ajudam a compor a agenda de boa parte da garotada.
Alô Bebê: Com qual idade a criança pode ter
atividades extras na agenda?
Maria Irene Maluf - Para a turminha de até 6 anos de idade uma atividade extra
é suficiente. Paulatinamente, é possível incluir outras modalidades no
currículo. Para quem passou dos 6, 7 anos, conciliar o aprendizado de um idioma
à prática a um esporte, por exemplo, pode ser positivo. Essa regra varia de
criança para criança, pois algumas têm mais pique ou desejo de praticar
determinada aula.
Alô Bebê: Atividades de auxílio doméstico são
consideradas extras?
Maria Irene Maluf - Depende da forma. As crianças precisam ser estimuladas a
vencer dificuldades e, se pequenas tarefas forem usadas para exercitar seu
aprendizado, pode ser importante para a autoestima e socialização delas.
Alô Bebê: A partir de qual idade pode-se incluir o ensino
de idiomas na rotina das crianças?
Maria Irene Maluf - A meninada pode ser estimulada a ouvir outra língua a
partir do momento em que já consiga expressar o idioma materno. A escrita e a
leitura podem ser ensinadas após a fase de alfabetização. A maioria das
escolas, inclusive, apresenta limite de idade para a matrícula.
Alô
Bebê: A partir de qual idade
elas podem praticar esportes?
Maria Irene Maluf - As aulas de esportes precisam ter aval de um especialista,
porque cada modalidade tem suas particularidades. Não atentar para isso, pode
comprometer o desenvolvimento físico ou a saúde da criança. A natação, por
exemplo, é indicada até para bebês. Outras como balé, o hipismo e ginástica
olímpica exigem idade mínima.
Alô Bebê: Quais atividades são indicadas para cada
tipo de criança?
Maria Irene Maluf - Depende, as crianças mais tímidas e retraídas devem
praticar atividades que as incentivem a uma maior exposição, como artes cênicas
e música. Entre os esportes, os coletivos são mais indicados por sua capacidade
de socialização. As atividades para crianças mais indicadas para as mais
agitadas, carecem de esportes disciplinadores, que as façam gastar energia. As
artes marciais e natação são boas dicas. Os mais extrovertidos precisam de
atividades nas quais essa característica possa ser aproveitada.
Alô Bebê: A leitura pode ser considerada atividade
extracurricular?
Maria Irene Maluf - A leitura é muito interessante, principalmente para quem
descobre os livros desde cedo. As crianças conseguem vivenciar aventuras
contidas nos livros de forma prazerosa e divertida. Já a leitura voltada às
tarefas escolares é um recurso do aprendizado, usada para interiorizar
conhecimento.